O fantasma do poço está entre os dez casos sobrenaturais mais conhecidos no Japão. Esse acontecimento teria ocorrido no século 17 na mansão de um senhor feudal com o nome de Oyama Tessan. Esse rico feudatário tinha uma bela criada chamada Okiku. Uma garota de família humilde que constantemente sofria assédio sexual de seu patrão, mas sempre esquivava e mantinha-se longe dos braços de seu amo.
A constante recusa da garota levou Oyama a arquitetar uma cilada para que ela se entregasse a ele. Assim, ele entregou um saquinho de moedas à Okiku, dizendo que havia ali dez moedas de ouro, e que ela guardasse cuidadosamente, pois ele teria que se ausentar da cidade durante quatro dias. A garota, ingenuamente, guardou o saquinho sem saber que na realidade só havia nove moedas.
Após breve ausência, o feudatário voltou ao seu palacete e pediu que a jovem devolvesse as dez moedas, uma por uma. A garota abriu o saquinho e foi contando uma por uma e ficou desesperada ao constatar que só havia nove moedas. Contou várias vezes para ver se não havia se enganado, mas infelizmente teve que reconhecer que estava faltando uma moeda.
Oyama mostrou-se muito furioso com o desaparecimento da moeda. Acusou-a de ter ficado com ela e exigiu sua devolução. Okiku não sabia o que fazer, pois sendo uma simples criada, mesmo que trabalhasse a vida inteira, jamais conseguiria uma moeda de ouro. Então, desesperada, correu para o jardim chorando. O ricaço a seguiu e disse que se ela fosse “boazinha” com ele, iria perdoá-la e a moeda seria esquecida. Impulsivamente, ela respondeu que não havia feito nada de errado, e que preferia morrer a entregar-se a ele.
Furioso com a recusa, o velho ricaço agarrou a jovem e atirou-a no fundo do poço existente no jardim dizendo:
- Se prefere morrer, vou satisfazer o seu desejo.
Quando passou a fúria, Oyama voltou ao poço e chamou várias vezes o nome dela, mas não houve resposta. Como o poço era fundo, certamente ela morreu afogada.
Ninguém ficou sabendo do paradeiro dela. Chegaram a comentar que ela era uma ingrata, pois sem agradecer o emprego que o patrão tinha lhe dado, foi embora sem dizer uma palavra para a cidadezinha do interior de onde viera. Como ninguém sabia de sua morte, não houve culto religioso dos 49 dias em sua memória. Depois desse dia, todas as noites, o espectro de Okiku aparecia sobre o poço. Ela tinha aparência triste e a voz de extrema amargura. Repetia o gesto de tirar moeda do saquinho e contar uma por uma: - Um..., dois...., três..., quatro...., cinco..., seis...., sete...., oito...., nove..., quando chegava no nove, a aparição dava um suspiro aflito e desaparecia.
Oyama, que assistiu àquela melancólica cena várias vezes, ficou desesperado. Não conseguia mais dormir, pois cada vez que se deitava para repousar, ouvia a triste voz contando: Um..., dois..., três..., até o nove.
Oyama confessou o crime e foi preso pelas autoridades. Na prisão, acabou enlouquecendo, pois não parava de ouvir a voz contando as moedas.
A propriedade tornou-se uma mansão abandonada e com fama de mal-assombrada. Tempos depois o terreno foi comprado por outro rico senhor. Aflito com o sofrimento da aparição, o novo proprietário solicitou um culto budista em memória a Okiku. Porém de nada adiantou, pois o fantasma continuou aparecendo e contando com amargura de um a nove. Persistente, o novo proprietário pediu para um monge de outra seita que rezasse pela alma de Okiku. Assim, passaram vários religiosos e muitos cultos foram realizados junto ao poço, e de nada adiantou.
Certo dia apareceu por lá o mago Shamon da seita Zenchi. Sua aparência desleixada não inspirou muita confiança do proprietário, que já estava prestes a abandonar aquele terreno. Em todo caso, como já haviam passado vários religiosos por lá, mais um não faria diferença, por isso pediu ajuda ao mago Shamon.
Em vez de fazer um culto religioso próximo do poço, Shamon ficou escondido à noite entre as folhagens do jardim. O fantasma apareceu e contou as moedas até o nove. E nisso Shamon gritou: - Dez!
Dizem que o fantasma deu um suspiro aliviado e nunca mais apareceu .
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