sábado, 30 de abril de 2011

Contos: Shiro

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     Há muito tempo atrás, num vilarejo japonês, morava um casal de idosos.

     Um dia, o marido foi até uma montanha buscar lenha. Depois de algum tempo ficou cansado e sentou sob uma árvore para comer seu lanche. Enquanto comia, aproximou-se um cão branco raquítico. Então,o idoso disse:
- Coitado do cãozinho,deve estar com fome.

     E deu o resto do seu lanche para o cãozinho.

     Pegou seu amontoado de lenha e voltou para casa, acompanhado pelo cachorro. Chegando em casa, a mulher recebeu-o carinhosamente e preparou um prato de sopa. O cachorro tinha o pêlo bem branco, daí, decidiram dar o nome de Shiro ao cachorro. O casal decidiu ficar um tempo com o cachorro, cuidando dele, e cada vez mais, ele ia ficando bonito e apegado aos donos.


     Certo dia, o senhor estava trabalhando no campo perto da sua casa, e o cão divertia se ao seu lado. De repente, o cãozinho endireitou as orelhas e começou a latir fortemente.



- Qual o problema, Shiro? Está assustado? - pergunta o velhinho, preocupado.



     Surpreso, ele viu Shiro começando a cavar, achando que seria um osso, o velhinho ajuda ele com sua enxada. Até que ele encontra um pote com moedas de ouro. Seu vizinho, vendo a cena, fica morrendo de inveja, daí, vai à casa do senhor, pedindo:



- Queridos vizinhos, eu e minha esposa somos muito sozinhos e gostaríamos que vocês nos emprestasse Shiro para nos fazer companhia.

- Pobrezinhos... Podem pegá-lo!


     Shiro seguiu os vizinhos e, para libertar-se dos maus-tratos, começa a cavoucar o terreno, e nada. O avarento julgou estar em seu terreno o tesouro e acaba amarrando Shiro numa planta, e continuou a cavar. Cavou, cavou e nada.



     Indignado, o velho avarento começa a bater em Shiro, que se pôs a latir desesperadamente.  O velhinho, ouvindo os lamentos do cãozinho, foi até a casa do vizinho e impediu que continuasse a maltratar o animal. Mas infelizmente, seus esforços foram inúteis, Shiro morreu naquela noite.

No dia seguinte, o casal plantou um pinheiro e sepultaram o cãozinho, em prantos. Em pouco tempo, a planta cresceu.



- Minha querida, este é um milagre de Shiro. Tenho certeza que dentro desse pinheiro está sua alma.



- Também acho - disse a velhinha. 


     Um certo dia,ela diz:

- Lembra-se do doce de farinha de arroz que ele gostava tanto? Por que não constrói um pilão do tronco do pinheiro, para eu preparar a farinha de arroz? Em seguida, faço uma boa quantidade de doce e levo à sepultura de Shiro.

     O marido aprovou a idéia e fez prontamente o pilão. Quando pronto, jogaram arroz dentro e começaram a socar. Quando fizeram isso, ficaram muito surpresos ao ver que a cada golpe, o arroz multiplicava. Multiplicou tanto que, ao transbordar no chão, viravam moedas de ouro.


     O vizinho, bem informado por sinal, ficou sabendo do novo milagre e foi correndo até a casa dos vizinhos.



- Gostaria de fazer um doce de arroz e levar até a sepultura de Shiro, mas não tenho pilão pra preparar a farinha. Podem me emprestar o de vocês?


     O casal,gentilmente diz:


- Claro,pode levá-lo.


     O avarento voltou todo contente pra casa e começou a socar o arroz. Mas quanto mais socava, mais o arroz minguava e cada grão que caía no chão se transformava em uma minhoca. Furioso, ele destrói o pilão com um machado e queima os pedaços em sua lareira.

     No dia seguinte,o bom velhinho pediu de volta seu pilão. O avarento respondeu:

- Seu pilão rachou e eu o queimei. Se faz tanta questão, pode pegar as cinzas.


     Tristemente, o velhinho recolheu as cinzas do pilão e colocou-as num cesto. Enquanto voltava para casa, uma brisa fez voar um pouco de cinza num galho desfolhado. O galho imediatamente floresce. O bom velhinho, contente, grita:


- Faço florir galhos secos!

     Um príncipe, passando pelo local, chega ao velhinho e ordena que faça florir uma cerejeira seca. O velhinho subiu na árvore, espalhou as cinzas e imediatamente a cerejeira floresce.

- Magnífico! - Gritou o príncipe

     Como recompensa, o príncipe deu-lhe um saco cheio de moedas de ouro.

     O vizinho avarento, já sabendo da novidade, sentiu tanta inveja que correu até sua casa, pegou cinzas de sua lareira e gritou: "Faço florir galhos secos!"

     O príncipe,olha,curioso e percebe que não é o mesmo cara de antes, então o desafiou.

     O velho invejoso subiu por uma árvore e espalhou as cinzas pelos galhos secos e ao invés de florescer, as cinzas voaram para o rosto do príncipe. Irritado, ele ordenou aos seus soldados que tirassem aquele velho insolente da árvore.

     No chão, o velho ajoelha-se, conta a história de Shiro e suplica:

- É Shiro que está me punindo por minha maldade, mas aprendi minha lição. Alteza, tenha piedade de mim e deixe-me ir embora para expiar minhas culpas.

     O príncipe comoveu-se com a história e deixou o velhinho seguir adiante.

     Daí, o velho avarento se arrependeu, pediu perdão aos seus vizinhos e passou a orar pela alma do pobre cachorrinho.


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